arrendamos um terraço para ver nascer o sol. alugar só se diz para móveis. arrendamos um terraço e eu arrendo o teu coração. e depois ponho a render a nossa paixão. como nos bancos. tu percebes de economia, eu percebo de amor.
Adormecer na tua cama desfeita. Nos teus lençóis com bonecos infantis. Ao teu lado, também a cheirar ao teu tabaco. Acordar na manhã seguinte e não saber do tempo, nem do Tempo, nem de tempo nenhum. Estar perdida. Tu, à janela, e por detrás a cidade. Tu, uma nuvem de fumo. Será talvez essa indecisão que nos envolve. Não, nunca. Tu, a tua nuvem de fumo matinal. O teu cheiro. Eu, entre os lençóis, talvez nua. Ainda com os sonhos presos à pele. Tiras-me as ramelas e eu a ti, as tuas. Reparo que tens caspa, que tens defeitos, que nem sequer és bonito, que tens defeitos, que não és mesmo bonito. Mas afinal és bonito. És tão bonito. Mesmo quando tens borbulhas irritantes. És tão bonito. Eu não acho, a sério que não, mas sinto. Até a lavar os dentes quando estou sentada na sanita e tu me vês pelo espelho e eu vejo-te inteiro e cheiras a mentol e eu detesto e beijo-te à mesma porque continuas a saber a ti. Beijo-te. Deixarei recados no teu coração a desejar-te um bom dia quando me levantar mais cedo. Deixar-te-ei beijinhos no frigorífico, miminhos entre os atacadores dos all star da mesma cor que os meus. E da loucura, da minha loucura, só saberás ao anoitecer. Não haverá rotinas porque gostar de ti é gostar da vida e é sermos cada dia inteiros um do outro, metade-metade não porque gostamos ambos de ganhar. O amor pode ser uma merda qualquer, eu quero é esta vida contigo. Acordar de manhã e saber ao teu corpo. Tocares em mim como cordas da tua guitarra. Soprares-me paixão ao ouvido e morderes-me baixinho. Adormeceres-me como uma criança, no teu colo, perfeitamente tua e violável. Quero a minha fragilidade quando amanheces em mim. Quero o anoitecer dos teus braços à volta do meu corpo. A tua boca, na minha. Não quero a poesia. Nada. Quero-te a ti. Diariamente. Até nos silêncios, até na falta de palavras. Ouvir-te respirar. O som dos carros lá fora. O som da cidade. Os sons da cidade. Tu, tu, tu. Antes e depois de tudo. O teu silêncio. Os nossos silêncios. Encontrarmo-nos a meio deste caminho. Este caminho. O nosso avião vai até ao amor, mas faz escala na paixão. Aceitas a tese? Dorme comigo. Mais que uma noite. Eu canto para ti de manhã.
Dormimos juntos e não avançamos o calendário. Dormimos muitas vezes juntos no mesmo dia e é como se o tempo não passasse. Vivia assim contigo.
A nossa cama,
ser estrangeira no teu coração é como andar descalça nas ruas de verão e comer gelados de inverno.
por isso, fui inscrever-me num curso de línguas.
De quando as janelas do nosso quarto choravam, de manhã. De quando o calor amanhecia lentamente, no inverno, na nossa cama. De quando as flores eram mais flores. E o céu mais azul. De quando havia viagens, entre nós. De quando os caminhos eram cor-de-amor. Dos laços de mel. De quando era poesia, o teu sorriso. De quando era música, a tua voz. De quando os teus defeitos eram só meus. De quando o meu corpo era a tua única morada. Da virgindade do nosso amor.
Saudades.
A mulher, o resto da vida, há-de ser a mulher, o resto da vida. Entretanto amar-me-ás, amar-te-ei, seja qual for o verbo ou a pessoa. Confusão mental. A poesia é uma miragem, o amor é um suicídio. A paixão são os fins-de-tarde, as noites. Veres-me como sou. Veres-me como só eu me vejo. Pura, inteira, nua. Tua.
fins (diz, entre um cigarro e outro)
ver as certezas nos teus olhos, ouvir as dúvidas nas tuas palavras.
fins (diz, entre um cigarro e outro)
um filme depressivo.
compassos. respirações. 3, 4. da manhã. nós. nono. Nonô. Leonor, talvez. o de rapaz. não, não. perceberás talvez um dia que cheguei a escrever letras de desamor, por ti. quinto? não, o segundo. "a nossa noite. Perfeita". leva pê grande mesmo?
Ele: Sentes-te bem assim comigo?
Ela: Pertenço-te. E à Terra.
Um tempo.
Ela: Nunca te chamarei meu amor.
Ele: Porquê?
Ela: Gosto do teu nome.
Um tempo.
Ele e Ela: Gosto de ti.
eu gostava de levar comigo esse amor que escondes entre a carne e os ossos. esquecer a poesia, esquecer. esquecer a ética. amar-te na cozinha, à luz do dia. com toda a falta de romantismo que a sinceridade tem.
hei-de tatuar o teu sabor
no céu da minha boca.
deixa-me ser
o anoitecer das tuas lágrimas.
e ter nas pontas dos dedos
as tuas madrugadas de esperança.
vem, meu amor,
ver o sol nascer em Nós.
Os corpos a serem tanto e tão pouco.
Naquele Abraço.
De corações.
É tão verdade,
este amor de sangue.
É tão verdade,
este amor de vida.
Tive a sensação clara de que os corpos sobravam. Queria chegar a ti. Ao teu íntimo, ao teu âmago. Tocar no teu coração como as princesas tocam piano. Com a leveza dos sonhos e a intensidade das viagens. Eu queria ser tua. Eu queria ser só tua. Eu queria ser só tua, Naquele Abraço. Naquela tarde. Neste sempre.
se tu soubesses
o quanto este amor
é tão simultaneamente
o meu ponto de partida
e o meu cais.
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